‘Sou negro com muito orgulho’ é o tema da tradicional gincana que a comunidade escolar do Colégio Estadual Democrático Bertholdo Cirilo dos Reis, no bairro de Plataforma, subúrbio de Salvador, realiza até quinta-feira (24). A atividade refere-se à culminância do projeto interdisciplinar Consciência Negra, desenvolvido ao longo do ano letivo pelos estudantes dos Ensinos Fundamental e Médio e da Educação Profissional. Por meio de tarefas lúdicas, os alunos trabalham temáticas voltadas às relações étnico-raciais.

 

A proposta, se destaca o diretor da unidade escolar, Antônio Dantas, é promover a Educação para a diversidade. “Esta é uma oportunidade para discutirmos questões como quem somos, a contribuição da população negra na construção da Bahia e o resgate da identidade, bem como o empoderamento de ser negro”, explica o gestor. A partir do envolvimento com as tarefas, a exemplo de paródias, desfile da beleza negra, apresentação de personalidades negras, culinária africana e concurso de turbantes, completa, “os alunos ganham conhecimentos sobre a importância da conscientização negra”.

 

Participam, no total, 16 equipes, cada uma batizada com o nome de personalidades negras, como Mãe Menininha, Mãe Stela, Gilberto Gil, Maria Filipa e Nelson Mandela. “É meu último ano no colégio e posso dizer que concluo o Ensino Médio com uma outra consciência cidadã, graças às atividades que a escola desenvolve, como é o caso da gincana. Hoje, digo que sou negro e com muito orgulho, e irei combater o racismo por onde quer que eu ande”, relata o aluno Luís Henrique Teles, 18 anos, 3º ano.

 

A estudante Laura Santos, 16, 1º ano, também atribui a sua conscientização sobre o tema à prática pedagógica da escola. “O racismo ainda é revelado direta ou indiretamente e cabe a nós combater esse absurdo. E, para isso, a gente precisa se reconhecer como negro e apontar para a sociedade os casos de preconceito, como vemos, por exemplo, nas novelas de TV, em que o negro ainda é estereotipado como um ser inferior ao branco”.

 

O colega Anderson Silva, 17, 1º ano, conta que ele sofre racismo quando entra em uma loja e os atendentes ficam vigilantes sobre os seus passos no ambiente. “É incrível a diferenciação no tratamento de um branco e de um negro, como eu. Eles me acompanham na loja atentamente, como se eu fosse, a qualquer momento, cometer um roubo. Estes e outros atos racistas podem passar batidos se não tivermos a consciência do nosso valor. Hoje me sinto mais consciente para lutar contra atitudes discriminatórias”, pontua.

 

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A professora de Língua Portuguesa, Lourdes de Paula, destaca a importância de trabalhar questões sérias em um momento festivo, como é a gincana do colégio. “Neste formato, a gente tem uma adesão total dos estudantes, que vivem o pertencimento com propriedade, linkando vários conteúdos às disciplinas curriculares. Daí, com muita criatividade e entusiasmo, eles trabalham temas como preconceito e desigualdade racial de uma forma muito dinâmica”, considera a educadora.

 

Programação – Várias ações alusivas ao Novembro Negro, marcado pelo Dia da Consciência Negra (20), continuam sendo desenvolvidas nas escolas estaduais e no âmbito da Secretaria da Educação do Estado da Bahia, até o dia 30. Em todas as atividades são abordadas questões como o combate ao racismo, que visam fortalecer a implantação da educação para as relações étnico-raciais no currículo escolar e no Projeto Político-Pedagógico (PPP) das escolas.

 

Nestas quarta e quinta-feira (23 e 24), o Colégio Estadual Eraldo Tinoco, instalado na comunidade quilombola, no distrito de Santiago do Iguape, em Cachoeira, sediará o seminário Educação Escolar Quilombola, em Santiago do Iguape (23), das 9h às 11h30, e o Projeto Consciência Negra, em Santiago do Iguape (24). O Colégio Estadual Eraldo Tinoco é a primeira unidade da rede estadual a implantar as Diretrizes Curriculares da Educação Quilombola.