Estudantes da rede estadual falam da importância do debate de temas ligados à ditadura militar

O debate sobre Os Arquivos da Ditadura Militar no Brasil e o Centro de Referência Memórias Reveladas, realizado, nesta sexta-feira (4/4), no Complexo Cultural dos Barris, foi uma das atividades de destaque no terceiro e último dia da programação do ciclo de atividades do projeto Ditadura Militar - Direito à Memória: 50 anos do golpe de 1964, desenvolvido, desde o ano passado, pelas secretarias da Educação e de Cultura do Estado, em parceria com a Fundação Pedro Calmon.

Fotos: Claudionor Jr. Ascom/Educação

O estudante Isaias de Jesus Conceição, 19 anos, do 3º ano do Colégio Estadual Senhor do Bonfim, em Salvador, conta que não tinha a dimensão exata do que ocorreu neste período da história brasileira. “Fiquei muito impressionado em saber que o Brasil tem o maior acervo da América do Sul referente à repressão política daquele período”, comentou Isaias. O colega Alexandre dos Santos, 19 anos, disse que a discussão sobre o tema acrescentou muitos conhecimentos para ele. “A censura foi algo muito terrível que aconteceu no nosso País. Acho importante a gente conhecer os documentos da época do golpe de 64 para entendermos a nossa história”.

Implantado em 2009, no Arquivo Nacional (RJ), com a finalidade de reunir informações sobre os fatos da história política recente do País, o Centro de Referência Memórias Reveladas reúne documentos ligados à repressão, como  o protesto no restaurante universitário Calabouço, no centro do Rio de Janeiro, quando o estudante secundarista Edson Luís foi assassinado, em 1968, por policiais militares. “Esse episódio motivou manifestações em todo o país, marcando o início de um ano turbulento de intensas mobilizações contra o regime militar, que, em resposta, decretou o AI-5 (Ato Institucional). A participação estudantil foi fundamental na resistência e no processo de transição para a democracia”, destacou o representante do Memórias Reveladas, o advogado Vicente Arruda.

Música x ditadura – Outra atividade que atraiu o interesse dos estudantes foi a oficina A Música e a Ditadura Militar. Sob o comando do professor Grimaldo Zachariadhes, também integrante do Memórias Reveladas, o evento abordou a música popular brasileira como possibilidade narrativa para a compreensão dos conflitos sociais e políticos do período da ditadura. “Por meio da produção musical daquela época, podemos observar, avaliar e refletir sobre as visões de mundo de indivíduos, grupos e classes sociais”, afirmou Grimaldo.

Fotos: Claudionor Jr. Ascom/Educação

Considerada o hino de oposição à ditadura militar, a canção Pra Não Dizer que Não Falei das Flores, de Geraldo Vandré, foi ouvida coletivamente e, depois, serviu de objeto de análise sobre o significado dos seus versos. “É uma música que tem o sentido de chamar a juventude para ir à luta”, disse o professor aos estudantes. Outra composição lembrada foi Aquele Abraço, composta por Gilberto Gil na sua despedida do Brasil, rumo ao exílio, junto a Caetano Veloso.

Douglas Barracho, 16 anos, 3º ano do Colégio Estadual João Francisco da Silva, do município baiano de Itiúba, gostou de conhecer o papel de resistência que muitos artistas empenharam, por meio de suas composições. “A repressão foi tão grande que até as canções que passavam uma ideia de liberdade eram impedidas de tocar pela censura. Nossos artistas que se engajaram, no período da ditadura, tiveram que se exilar para não serem presos”, disse o aluno.

Juventude na política – Já o debate A Participação da Juventude na Política: do golpe de 1964 à democracia contemporânea, com o coordenador de Políticas Públicas de Juventude da Secretaria de Relações Institucionais da Bahia (Serin), Vladimir Pinheiro, ressaltou as principais bandeiras e espaços de organização na atualidade, por meio de um resgate histórico-reflexivo da atuação do movimento estudantil, desde o golpe militar. “Achei o evento bem interativo, e, em resumo, o debatedor mostrou a importância da participação dos jovens e o seu poder de mudar várias situações que não são favoráveis. Temos mesmo que lutar pelos nossos direitos e nós, estudantes, cumprimos esse papel desde o golpe de 1964, como disse ele”, avaliou a estudante Tailane Francisca dos Santos, 16 anos, do Colégio Estadual Senhor do Bonfim.

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