Estudantes realizam feira de empreendedorismo negro em Cajazeiras IV

Fotos: Claudionor Jr. - Ascom/Educação
A celebração do Dia da Consciência Negra, nesta terça-feira (20), intensificou as atividades nos colégios estaduais, dentro do Novembro Negro – ação que integra o conjunto de políticas afirmativas da rede estadual de ensino. A programação nas unidades escolares se deu em forma de gincanas, feiras de empreendedorismo, contação de Histórias e Lendas Africanas e encenações teatrais, entre outras, tendo como protagonistas os estudantes dos Ensinos Fundamental e Médio. No Colégio Estadual Edvaldo Brandão Correia, localizado no bairro de Cajazeiras IV, em Salvador, por exemplo, os alunos realizaram a Feira de Empreendedorismo Negro, no âmbito da tecnologia, da moda, do artesanato, da culinária, do design de interiores e do turismo.
 
No estande de design de interiores, a estudante Acácia Araújo, 16, 3º ano do curso técnico de Comércio, conta que ela e os colegas idealizaram a empresa Diáspora e explicou o motivo. “O design de interiores é responsável por trazer a identidade do cliente no espaço onde que ele quer estar. Mas é muito difícil o negro se identificar em um ambiente decorado porque este não traz o estilo africano. Eu, como negra, sinto falta de um estabelecimento que comercialize objetos que trazem a nossa identificação cultural, como por exemplo as cores do pan-africanismo, que são o amarelo, vermelho e preto. Então, estou muito feliz com a oportunidade de mostrar o nosso trabalho nesta feira”.
 
Outra apresentação interessante foi mostrada pela aluna Beatriz da Silva, 16, do curso técnico de Administração, no estante de tecnologia. Ela e sua equipe criaram o Medidor de Temperatura Ambiente (MTA) e um aplicativo para facilitar o acesso às informações sobre a anemia falciforme. “Trouxemos o tema da tecnologia voltada à área de saúde porque constatamos que a anemia falciforme acomete mais a população negra. Daí decidimos criar uma biotecnologia que ajudasse as pessoas com a doença a medir a temperatura do ar, já que estas têm maior propensão a infecções, e aplicativo informativo. O MTA que desenvolvemos custa R$ 50, enquanto que o aparelho comercial custa R$ 675, sendo que o nosso tem a mesma precisão. A ideia é levar para as escolas públicas, onde tem muitos alunos com anemia falciforme, para ajudá-los no controle do seu bem-estar”. 
 
A professora de Matemática, de Economia e de Técnicas Administrativas, Maguete Santos, falou sobre a proposta da feira de trabalhar a questão do perfil empreendedor do aluno. “Temos muitos alunos que só precisam de uma orientação para desenvolver a sua criatividade. Nossa ação, hoje, está voltada para o empreendedorismo negro, dentro de um contexto econômico em que se denota a falta de emprego e preparando o aluno para o mundo do trabalho de forma criativa e múltipla. Estou muito orgulhosa do empenho dos nossos alunos”.
 
Berço da africanidade
Já no Colégio Estadual Bolívar Santana, localizado no Centro Administrativo da Bahia (CAB), em Salvador, os estudantes iniciaram, nesta terça-feira (20), a Gincana Cultura Bahia - Berço da Africanidade Brasileira. O evento, que prossegue até quinta (23), visa, por meio de tarefas específicas, trabalhar a temática do Novembro Negro. Como atividade social que antecedeu a gincana, os estudantes arrecadaram quatro toneladas de alimentos, que foram distribuídos para entidades sociais e ONGs. “Estamos colocando em debate uma pauta importante, principalmente para uma comunidade escolar negra em sua maioria, com o objetivo que os alunos conheçam a sua origem, a sua cultura, o seu valor, o seu legado histórico. Para que tenham sua autoestima elevada, eles precisam se apropriar de sua história e é o que estamos propondo”. 
 
Os estudantes Manoel Lisboa, 11, e Thalia da Silva, 12, ambos do 6º ano, falam de suas motivações em participar da gincana. “Esta atividade da escola expressa a nossa cultura e ajuda no nosso cotidiano para que a gente não aceite o racismo, o preconceito”, disse Thalia, que, na gincana, atuou como professora na apresentação da Revolta da Chibata. “Achei muito legal esta gincana porque faz a gente acreditar que o amor entre as pessoas existe, apesar do racismo. Como negro, ainda sofro preconceito quando vou no shopping, por exemplo, e os vigilantes ficam atentos a mim achando que sou algum pivete pronto a roubar”, relata Manoel. 
 
A Semana da Consciência Negra na Escola Estadual Leda Jesuíno dos Santos, no Engenho Velho de Brotas, em Salvador, começou na segunda (19), com a apresentação da peça "Labirinto", do Grupo de Teatro da Polícia Militar, e prossegue até o dia 26/11, com uma ampla programação. Nesta terça (20), foram apresentados os Games Sociedade Nagô e a Revolta dos Malês e dos Búzios-220 anos, e uma homenagem ao Mestre Moa do Katende, que era morador da comunidade do Engenho Velho de Brotas, foi prestada pelos estudantes para a família do músico e capoeirista assassinado em outubro passado. No dia 26, no Museu Nacional da Cultura Afro Brasileira, os estudantes participarão de um bate-papo musicado com o cantor Tonho Matéria e a professora Naynara Moreira. Ainda dentro das atividades, destaque para o desfile “Beleza Negra”; apresentações de capoeira e de dança afro; e Sarau Black, além de exposições sobre as contribuições dos negros nas diversas áreas de atuação.
 
Professores e estagiários do Centro Estadual Pestalozzi da Bahia – Educação Inclusiva, situado no bairro de Ondina, em Salvador, encenaram o conto “Menina bonita de laço de fita”, da escritora Ana Maria Machado. O texto fala de uma menina preta dos cabelos de tranças que não era discriminada, como é comum às pessoas negras na vida real, pois tinha um amigo coelho que a admirava muito. No Colégio Estadual Rotary, em Itapoan, foram realizadas inúmeras apresentações de dança, música, e poesia, além de exposição de bonecas confeccionadas pelos estudantes e de autorretrato dos alunos.

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