Estudantes quilombolas aprendem a valorizar identidade cultural

 
 
 
 
Foto: Claudionor Jr. Ascom/Educação
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
No mês em que se comemora o Dia da Consciência Negra, a Secretaria da Educação do Estado, por meio do programa Educar para Transformar, apresenta um bom exemplo da implantação das diretrizes curriculares quilombolas na rede estadual. Com 180 estudantes matriculados, o Colégio Estadual Eraldo Tinoco, localizado na comunidade quilombola Santiago do Iguape, em Cachoeira, comemora os resultados da iniciativa. Os estudantes estão cada vez mais se reconhecendo enquanto quilombolas e valorizando sua cultura, costumes e identidade.
 
Ao todo, a unidade escolar tem alunos de oito comunidades quilombolas da região como: Santiago do Iguape, Kaonge, Dendê, Kalembá, Opalma, São Francisco do Paraguaçu, Engenho da Ponte e Engenho da Praia. Além dos conteúdos gerais das disciplinas, os estudantes estão se apropriando dos saberes tradicionais por meio do resgate histórico e cultural do povo quilombola. Isso acontece por meio de debates, seminários e apresentações artísticas.
 
Em sala de aula, os estudantes já discutiram os objetivos e princípios da educação quilombola, a exemplo do direito à igualdade, liberdade, diversidade e pluralidade, proteção das manifestações da cultura afrobrasileira e a valorização da diversidade étnico-racial. Como consequência, o pertencimento das suas origens e orgulho de ser quilombola, como enfatiza Evelin Ferreira, 18 anos, 3º ano do Ensino Médio. “Eu me reconheço totalmente quilombola porque essa cultura é antiga em nossa comunidade e acho muito importante que outros jovens venham a reconhecer e valorizar as tradições nos dias de hoje”.
 
É o que também afirma Darine Santana, 18, filha de uma das coordenadoras da Associação dos Remanescentes de Quilombo de São Francisco do Paraguaçu. “É essencial esse trabalho que esta sendo desenvolvido na escola, pois, conhecemos um pouco da história de nossos antepassados e que, hoje, podemos lutar pelos nossos direitos”.
 
O estudante Antônio de Oliveira, 35, que cursa o 3º ano do Ensino Médio, destaca a importância deste trabalho na escola. “Ensino a arte da capoeira para crianças da comunidade e procuro sempre levar uma mensagem positiva sobre nossos costumes e tradições”, disse. Já Marcos Vinicius de Oliveira, 18, aluno do 2º ano, ressaltou que a identidade quilombola não é definida apenas pela cor da pele. “Tenho pele e olhos claros e nem por isso vou negar as minhas origens, sou filho de pais quilombolas e me reconheço como um”, enfatizou.
Foto: Claudionor Jr - Ascom/Educação
 
 
Valorização da Identidade étnico-racial
Apresentar para a classe estudantil a história do Brasil nos parâmetros de construção da sociedade, destacando como cada grupo se instalou, desenvolveu, se impôs e resistiu, faz com que os estudantes se identifiquem com a história de seu povo. É o que avalia Ana Clara Amorim, vice-diretora do Colégio Estadual Eraldo Tinoco. Ela disse que “alguns alunos ainda não se reconhecem enquanto quilombola, mas, aos poucos, isso está mudando porque eles acabam entendendo o contexto histórico e geográfico da região. Além disso, também os leva a desenvolver um sentimento de pertencimento de sua identidade e cultura”, explicou.
 
Projetos pedagógicos
A vice-diretora da unidade escolar também afirmou que a partir das atividades envolvendo discussões sobre as diretrizes, os professores estão percebendo a maneira como os estudantes estão reagindo a essas abordagens. “Isso servirá de base para que na nossa jornada pedagógica de 2016, a  gente tenha um entendimento maior do que será mais interessante trabalhar na escola”, disse Ana Clara Amorim, ressaltando que a Secretaria da Educação do Estado da Bahia está dialogando com a prefeitura de Cachoeira para que as diretrizes para a educação quilombola sejam aplicadas, também, nas escolas municipais.
 
A professora Tabatha Fernandes Mascarenhas, que leciona Educação Física, já está articulando com o corpo docente novos projetos e ações de valorização da essência cultural dos remanescentes de quilombos. “Estamos estruturando atividades lúdicas para trazer para o cotidiano escolar os aspectos inerentes às suas tradições e que tem como base a África. “Vamos trabalhar os penteados originalmente africanos, a exemplo das tranças embutidas e turbantes, vestimentas, maquiagem para a mulher negra e envolver os meninos na questão da ornamentação e riqueza de detalhes, através da representatividade das cores como o preto, vermelho e dourado”, disse a educadora.
 
Assista o depoimento da aluna Evelin Ferreira:  

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