Estudantes Pataxós celebram o Abril Indígena com projeto literário para fortalecer sua cultura e identidade

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No mês de abril, quando se celebra, nesta segunda-feira (19/4), o Dia Nacional do Índio, os movimentos de visibilidade e resistência dos povos indígenas do Brasil se intensificam para manter as suas tradições e vidas resguardadas. No Colégio Estadual Coroa Vermelha e o anexo Guaxuma, no município de Santa Cruz de Cabrália, no Sul da Bahia, a comunidade escolar idealizou o Projeto Abril Indígena, sob o tema “Literatura Indígena”. Por meio desta iniciativa, estudantes e professores estão desenvolvendo ações – virtuais ou por meio de material impresso – para promover momentos de reflexão e de conexão com os seus povos, visando o fortalecimento de suas memórias; a defesa de suas narrativas; o respeito aos anciãos e encantados; o compartilhamento de seus saberes; e, sobretudo, a denúncia do etnocídio. 
 
O resgate e a preservação das tradições indígenas são temas relevantes nas discussões. A professora de Linguagens e Ciências Humanas, Adriana Pesca, da etnia Pataxó, ressalta que, historicamente, os povos indígenas foram invisibilizados e silenciados. “O processo de colonização produziu uma história sobre os povos indígenas que nos coloca à margem da sociedade, em um lugar em que não há respeito à nossa diversidade de povos etnicamente diferentes e às nossas especificidades. Ainda hoje sofremos com estereótipos, preconceito e racismo. A palavra resgate nos remete a algo que, por não existir mais, precisou ser resgatado, mas, na verdade o que fazemos, através de nossos movimentos de fortalecimento, é trazer por meio das vozes dos vários povos as narrativas históricas que não foram contadas e garantir que nossas culturas permaneçam vivas através dos tempos e que os sujeitos indígenas estejam engajados em várias frentes da nossa sociedade. O que requeremos, para além da preservação de nossas tradições, é que haja respeito às nossas manifestações, aos nossos saberes, cosmologias e epistemes”, pontua. 
 
Neste sentido, completa a professora Adriana, o Projeto Abril Indígena vem sendo realizado há alguns anos na escola, dentro de uma dinâmica de fortalecimento e visibilidade das práticas culturais, por meio de oficinas de produção de artesanato, pesquisas e produções artísticas, dentre outras ações. “Antes da pandemia, o projeto iniciava com a oferta das oficinas por turma e série, sob a orientação de um professor específico de cada turma e culminava nos jogos indígenas estudantis. Com o isolamento social, tivemos que ressignificar nossas práticas para o modelo remoto e virtual. Este ano, realizamos aulas síncronas e assíncronas, em atendimento remoto e impresso, por meio do qual refletimos, pesquisamos e desenvolvemos atividades em torno da Literatura Indígena”, relatou a educadora, destacando que “o 19 de Abril é uma data simbólica, mas que a representação dessa data não está diretamente vinculada aos nossos ideais”.
 
A professora de Física, Química e Patxôhã, Graziela Oliveira, detalha que as atividades estão sendo realizadas por meio de material impresso ou enviado pelo WhatsApp e Classroom. “Utilizamos documentárias produzidas por nosso povo e outros povos indígenas do Brasil e os nossos alunos participam de lives que abordam temas como Educação Escolar Indígena e outras formas de resistência, dentro da perspectiva de reflexão sobre nossos fazeres e responsabilidades enquanto Povo Pataxó”, relata a professora de Física, Química e Patxôhã, Graziela Oliveira. Ela ressalta que os povos indígenas sofrem desde que a sua terra foi invadida. “Lutamos, diariamente, pela sobrevivência de nossas tradições e pelo simples direito à vida. Mantemos o que nos foi ensinado, nossas tradições continuam guardadas e preservadas em cada um de nós, mas precisamos mostrar ao mundo que existimos e resistimos ao etnocídio, aos ataques e à negação da nossa cultura. Por isso, abril tem sido usado como instrumento de resistência, pois a visibilidade de nossas lutas surge com maior força nesse período, quando nossas ações são voltadas a relembrar, refletir e reaprender novas formas de luta e resistência. Manter nossas tradições é manter nossas vidas, porque vidas indígenas também importam”, declara.
 
A estudante Denise Mawynã Pataxó, 21, 2º ano, comenta sobre o Abril Indígena e o que representa o 19 de abril. “Para a nossa comunidade, o projeto é muito importante, pois é um momento de nós, estudantes indígenas, mostrarmos um pouco do nosso conhecimento e da nossa cultura para aqueles que conhecem somente a nossa história contata nos livros oficiais. O 19 de abril é uma data que deve servir para reflexão de todos sobre uma luta que nós, indígenas, enfrentamos todos os dias para combater o preconceito e o genocídio do nosso povo. Foram 521 anos de luta e muito sangue derramado dos nossos antepassados para hoje estarmos aqui pisando nesse chão. São anos de resistência e temos que resistir para existirmos”, afirma.
 
 A colega Heloisa Lima Santos, 16, 1° ano, também fala da importância do Abril indígena. “Estou gostando bastante por ser um projeto importante para a preservação da cultura Pataxó, pois promove a reflexão sobre a nossa resistência há mais de 500 anos, com muitas lutas, perdas e perseverança. Este trabalho mantém viva em nossos corações a nossa história e valoriza tudo que os nossos ancestrais conquistaram”. 
 
Samira Braz da Silva, 17, 2º ano, completa: “Este projeto, além de lindo e incrível, é mais que necessário para que, mesmo em meio à pandemia, possamos reunir as nossas forças e valorizar a nossa cultura, mostrando a importância dos indígenas e sua resistência”.

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